Que viagem é essa agora?
Voltei da Nova Zelândia, em fevereiro de 2019, transformada. Muito além da aventura de dirigir 7,980 km por lugares lindíssimos, foi o fato de estar em contato íntimo comigo mesma nessas tantas horas de silêncio. Muito além da ousadia de deixar-me levar pelos percalços ou deslumbramentos do caminho, foi aprender lentidão e quebrar os paradigmas de me submeter ao que eu mesma planejara. Muito além da oportunidade incrível de vivenciar a cultura de Respeito pela natureza e pela comunidade, foi perceber-me impregnada dela pela prática e não pela razão. E, muito além da dádiva de ter de enfrentar tempo ruim por mais de um mês, foi aprender a cultuar os dias nublados que me jogaram de encontrão com minha imaturidade.
Comprei vários korus, o símbolo maori de renascimento. Queria mantê-los em contato com o peito, talvez para lembrar que eu me renovara gradativamente e com grandes chances de que fosse permanente.
Troquei a foto de minha página no Facebook por uma silver fern, a samambaia prateada que os maoris usam para não se perderem na mata, como que explicitando que não podia me perder na volta. Sim, tive medo de que a volta à vida corriqueira me corrompesse. Tive medo de acelerar, de perder a capacidade de contemplação e, sobretudo, de me deixar sugar por objetivos de ordem prática.
Em minha mente, sempre que penso naquela viagem, o que faço isso com muita frequência, tenho uma atitude de reverência, quase de idolatria. Não sou ingênua a ponto de achar que foi o país que operou tanta mudança em mim. Mas não tenho dúvida que tudo nele conspira a favor de quem busca se superar.
Então, quando foi decretado o confinamento, em função da pandemia do Covid-19, apressei-me em planejar ações que, num conjunto, fossem úteis e contribuíssem para eu me sentir bem. O que não planejei, mas que foi acontecendo naturalmente, foi rememorar em detalhes aquela viagem. As imagens e fatos voltavam frequente, intensa e vividamente à minha memória, me trazendo paz e levantando meu ânimo quando começava a sentir cansaço ou inquietação. Até o ponto em que passei a provocar essas viagens mentais, para contemplação de seus encantos, reaprender as grandes lições e refletir sobre a vida.
Nesses muitos momentos em que mergulhei nas lembranças, veio a vontade de viajar mentalmente pelo mesmo roteiro que segui, registrando num blog essa experiência. Então, aqui está ele, sendo escrito cronologicamente, não por uma turista, que realmente não fui, mas por uma apaixonada por tudo que vi, vivi e incorporei para tentar me tornar um ser humano melhor.
Tania Paris