White Island é apenas o vulcão Whakaare
Nem me lembro quando começou meu enorme interesse por vulcões. Mas me recordo de um dia inteiro para subir e descer o Monte Pelée, em Martinica, para ser barrada exatamente no ponto em que já dava para sentir cheiro de enxofre.
Naquela viagem visitei o museu de vulcanologia e achei que tivesse aprendido muito sobre erupções vulcânicas, o que só fortaleceu a ideia de dar uma olhadinha dentro de uma cratera. Essa era uma daquelas coisas em que, por mais de 30 anos, ficava na lista do "um dia eu vou fazer isso".
Eu tinha uma excursão comprada para a Ilha Branca e não tinha conseguido vaga para dormir em Whakatāne na véspera. Então busquei pernoitar o mais perto possível, pois teria de acordar e dirigir de madrugada para estar entre os primeiros dos 30 privilegiados a embarcar na aventura.
O holiday camping que encontrei não tinha cabanas, mas alugava barracas, que já estavam montadas. Tudo bem! Eu só precisava dormir bastante para estar com muita energia no dia seguinte. Topei e tive uma surpresa muito agradável com o tamanho e localização da minha barraca.
Em frente a ela tinha uma mesa rústica com bancos, impecavelmente limpos, como tudo dentro da barraca, convidando para uma refeição, como a que vi sendo desfrutada por dois casais que compartilhavam garrafa de vinho, muita conversa e muitas risadas. Passei por eles na ida para o meu banho de 6 minutos e também na volta, quando estava perdida naquele espaço muito grande, e recebi um gentil convite para me unir ao grupo. Mas já era noite, eu estava ansiosa por dormir, e aquele incrível sotaque kiwi já tinha me feito ficar envergonhada de pedir para repetirem duas vezes as instruções do caminho para meu refúgio.
Antes de escurecer eu fui à praia, majestoso quintal do camping! Guardei fotos do crepúsculo com o título "sunset invertido". É que aquela era praia própria para assistir ao alvorecer. Então entrei na água para ver o espetáculo do lado oposto.
A noite na barraca foi surreal. Ali tinham muito mais equipamentos do que eu poderia precisar, mas não estava explícito onde acender qualquer uma das muitas lâmpadas dos diversos cômodos. É claro que não seriam interruptores, mas não achei cordinha, borboleta, pug, sei lá... Precisei virar meu carro de frente para a barraca e acender os faróis para me preparar para dormir. Aí liguei a televisão (sim porque TVs têm botões) e achei um canal māori com um casal cantando. As músicas eram doces, em vozes suaves. Concluí que não deveria desligar a TV, porque poderia precisar levantar à noite e, deliciosamente, tudo estava escuro como breu.
Só depois de quase uma hora é que descobri que aquela não era uma apresentação ao vivo. O canal repetia as mesmas duas músicas infinitamente. Então, sem entender patavina, e não por opção, eu as decorei.
O despertador me acordou na madrugada e eu levantei com a empolgação de criança em dia de Natal, que sabe que irá ganhar presente.
Dirigi até Whakatāne e lá cheguei com o raiar do dia. O rio estava lindo. O fato de voltar a um lugar onde já estivera me deu uma sensação como de chegar em casa, de aconchego; e percebi que eu estava me locomovendo demais e parando pouco...
Fiz check in na excursão e soube que ainda aguardavam autorização para sair.
Ainda era cedo. Deu tempo de tomar um café da manhã e acreditar que eu deveria me proteger contra enjoos.
Comprei dois dispositivos de malha para colocar nos pulsos. Eles possuem um botão bem simples que aperta um ponto específico que, segundo eles, comunica-se com a região responsável por nos fazer enjoar. Não sei se foi porque eu queria que funcionasse, mas o certo é que não enjoei na viagem.
A ilha, que fica a 49 km da costa, é chamada de branca porque os gases tóxicos expelidos pelo vulcão não permitem que nela cresça vegetação. Mas tudo aquilo que se vê é apenas o topo de um vulcão submerso, em atividade, que em māori é chamado "Te Puia o Whakaari", que significa "o vulcão dramático"- ele ruge, chia e libera gases a 800° C.
Ali nada nasce e nada permanece. A atividade de extração comercial de enxofre foi abandonada depois que todos os seus equipamentos enferrujaram e o mar derrubou os diversos cais que foram construídos para dar acesso a barcos.
A operadora da excursão precisa, então, de autorização diária para a viagem, porque são monitorados tanto a atividade vulcânica quanto o movimento das ondas, para saber se o pequeno bote conseguirá aproximar-se da ilha.
Autorizações conseguidas, lá estava eu recebendo um milhão de instruções, mais o equipamento de proteção: capacete, máscara com carvão ativado e balas (!), pois a garganta acaba se não for lubrificada continuamente, mesmo usando máscara.
Ao nos aproximarmos da ilha, o capitão percebeu que não daria para desembarcar. Conseguiu, então, autorização para navegarmos por mais uma hora, na expectativa do mar se acalmar. Foi quando pudemos seguir o balé de uma golfinha com sua cria.
Sabe aquela sensação de "ai, minha nossa! Será que vou morrer na praia?". Não morremos. O mar acalmou-se o suficiente para a interessantíssima manobra do bote. Ele aproxima-se da parte mais baixa da ilha e fica aguardando para "pegar onda", porque ali existem muitas pedras e é a ação de uma onda grande que eleva e joga o bote para o local onde existe uma escada do outro mundo. Nela começou a paisagem desse outro mundo.
Completada com sucesso a arriscada manobra, me vi diante de uma escada alta e vertical, enferrujada e assustadora no topo. Olhei para lados e... eram todos jovens. Ops! Também sou e não iria me intimidar. Mas ainda me lembro do alívio de ver um sorriso, uma oferta e uma mão estendida para ajudar-me a sair dela.
O guia explicou que esse vulcão é do tipo que tem fumaroles - aberturas no solo que emitem vapores e gases; ou seja, são como baby crateras. Elas nascem de um dia para o outro e, mesmo as menorzinhas cozinham uma pessoa que se distrair e pisar nelas.
Então, o grupo andava em fila indiana, sem nos desviar do caminho trilhado cuidadosamente pelo guia. De vez em quando ele dizia "essa não estava aqui ontem".
Depois de nos aproximarmos o máximo possível da cratera principal, descemos para uma região sem fumaroles onde podíamos respirar um pouco melhor, metafórica e literalmente falando, e brincar com coisas inusitadas, como o riacho de água fervente.
... e para deixar a ilha, executamos o ritual de desinfectar os calçados. Não se leva inadvertidamente partículas de um ecosistema para outro. Assim, o vulcão dramático continua destruindo o que o cerca, mas limitado ao seu próprio espaço.
Descer aquela escada horrível teria sido horrível novamente, mas o rapaz que havia me oferecido a mão na chegada apressou-se a chegar perto de mim e disse "você se importa se eu ajudá-la?". Não, não me importo, claro - e guardo a lembrança da doçura da sensibilidade dele.
Cada instante daquele dia foi intenso. Visitar um vulcão é, sim, perigoso. Mas é também perigoso passar a vida sem realizar sonhos possíveis.
Autor do artigo
Tania Paris