Whakatāne e a história que lhe dá o nome
Cheguei sem expectativas a Whakatāne (pronuncia-se "Facatâane"). Encontrei um hotel simples, basicamente só para pernoitar, e a proprietária começou a me fazer perguntas. Não sei se era o fato de estar viajando sozinha, ou se pelas respostas não convencionais, mas essa cena se repetia com boa frequencia. As pessoas começavam me perguntando de onde eu vinha e para onde ia, e quando eu respondia que o próximo destino dependia do tempo, elas desatavam a conversar. Nessa altura da viagem eu já tinha conhecido muito da Nova Zelândia e quando acontecia de perguntarem se eu havia estado em algum lugar, as perguntas se intensificavam.
Lembro-me de uma vez em que entrei num centro de informações para buscar saber se valia ou não a pena ir para um certo local. Depois dessa clássica conversa que relatei acima, a moça me perguntou se eu havia estado em Bluff, no extreno sul da ilha sul, o que é longe pra dedéu. Aí ela começou a conferir as informações teóricas que tinha com a minha experiência. Teríamos ficado horas nessa agradável sabatina se o Beto não tivesse aparecido para me resgatar...rsrs
Mas, voltando ao check in em Whakatāne, a senhora me perguntou se eu pretendia ir à Ilha Branca. E foi assim que descobri que era de lá que partia o único barco autorizado a desembarcar no único vulcão marinho ativo. Uau! Acabei de descobrir que o destino do dia seguinte depende do tempo, mas também das novas informações que surgem assim, sem mais nem menos. Inverti os papéis e metralhei a senhora com perguntas sobre esse que me era um ultra super mega interessante destino.
Ao me ver fascinada pela ideia de ir ao vulcão, ela acrescentou que eu poderia gostar de ver a estátua situada na foz do rio, em homenagem a Wairaka, que protagonizou a história que deu nome ao rio e à cidade.
Era uma sexta-feira e eu já pedi para esticar minha estadia por mais um dia, mas eles estavam lotados a partir do dia seguinte. Gentilmente, ela ligou para o hotel que organiza a excursão e conseguiu uma reserva. Mas me alertou que a inscrição não garante o passeio. Todas as manhãs, o órgão que monitora a atividade sísmica emite um comunicado sobre as condições de segurança para atracagem na ilha (altura das ondas do mar) e para desembarque (nível de atividade do vulcão). Só com o aval deles é que o barco deixa o cais.
Agradeci muito, larguei minha bagagem no quarto e corri para inscrever-me. Foi nesse momento que soube que a visita é limitada, pelo dono da ilha, a 30 pessoas por dia. E a fila de espera já estava razoavelmente grande. Coloquei meu nome na fila, sabendo que o mar não estava colaborando, e já comecei a articular uma estratégia para não deixar de conhecer a ilha.
Para aquele dia, restava-me conhecer o rio.
Não fui chamada e, então, inscrevi-me para uma excursão dali a uma semana. Eu queria conhecer Gisborne e uma semana seria o tempo perfeito para dirigir pelo litoral e retornar pelo interior sem me apressar.
Foi assim que sobrou um dia em Whakatāne para pesquisar sua história.
Nos idos tempos da ocupação da Nova Zelândia pelos māoris, o meio de transporte era canoa, tanto em rio quanto em mar. Elas eram muito estreitas e longas, como puder constatar na que foi preservada para perpetuar a memória do ocorrido.
Quando uma das tribos lá chegou, os homens desceram para reconhecer a terra e deixaram mulheres e crianças na canoa. Só depois é que notaram que estavam perto demais da foz e que a correnteza forte arrastava a conoa para o mar.
Como só aos homens era permitido remar, as mulheres entraram em pânico, frente ao desastre iminente. Wairaka, adolescente filha do chefe, rapidamente avaliou a situação versus a proibição. Pegou o remo e disse "Me whakatāne au i au", o que quer dizer "devo agir como se fosse um homem"; e salvou sua tribo.
Em sua homenagem, no local do incidente, foi instalada uma estátua com sua figura esguia e destemida. Sua localização não poderia ser mais privilegiada, rota de saída de todos os barcos, marco de entrada para essa cidadezinha acolhedora.
À margem do rio, além de deliciosos momentos de paz e contemplação, encontrei o cuidado de manter intactas diversas construções da época, incluindo a caverna para onde uma sábia anciã māori se recolheu para aguardar a morte e lá permaneceu por um tempo muito grande, sendo alimentada pelos membros de sua tribo que a visitavam com fervor.
Não senti pena em partir, porque voltaria em breve.
Autor do artigo
Tania Paris