Waitomo caves, atestado de Respeito
Quem já entrou numa caverna sabe, e quem ainda não teve essa oportunidade deve imaginar como o piso é acidentado. Teoricamente, seria uma excursão para pessoas com bom domínio de suas pernas.
Para chegar a Ruakuri, uma das muitas cavernas dessa região, Beto e eu nos despedimos, com pesar, de Muriwai, onde sorvi os crepúsculos que tanto busquei. Hoje penso que a decepção de não ter podido ir assistir o pôr do sol na praia em Piha, e os quarenta dias anteriores, na maioria nublados, foram uma espécie de preparação para os olhos e para o coração. Seria um desperdício olhar para aquele espetáculo como espectadora. Eu tinha que aprender, e aprendi, a me mesclar com a natureza vigorosa, deixando-me envolver e movendo-me como e para onde meus instintos me levassem; ora na areia, ora escalando os pequenos morros ao fundo da praia, desajeitadamente porque os olhos colam no horizonte e faltam para guiar os pés.
A rodovia principal nos levou naturalmente para uma parada em Hamilton, a sétima maior cidade do país, com quase 200 mil habitantes. Para mim, acostumada a parar em vilarejos, Hamilton pareceu enorme, mas, diferentemente da imagem que tenho de cidade grande, Hamilton é bonita.
No centro há uma enorme área preservando o entorno de um lago. Para contemplá-lo, uma escadaria formando bancos onde casais namoravam. Um caminho bucólico dá acesso a contorná-lo. E nele achei um koru que me impressionou.
Os māoris dão esse nome ao broto das samambaias. Para eles, os korus significam renovação, renascimento. As folhas da samambaia que envelhecem são as de baixo da planta. Enquanto elas secam para finalmente se desintegrarem, o koru desponta ereto, majestoso, desenrolando lentamente o núcleo principal e permitindo que cada "filhote" de koru se desenrole também, dando forma a incríveis enormes folhas, cheias de vida.
Cada koru que encontrei nessa viagem me fez parar. Todos esses caminhos estavam propiciando momentos de profunda reflexão e, consequentemente, de renovação. Me sentia renascendo... Sabe o impulso de pegar uma tesoura para cortar os galhos secos de uma planta? E a sensação de livrá-la do que já estava morto, para que possa usar toda sua energia para desenvolver-se? Assim estava eu, motivada a podar meus pesos e canalizar minha energia para cuidar melhor de mim e poder ser melhor para tantos que amo. E, falando nisso, ali perto mesmo estava o Beto com toda a paciência do mundo, me dando todo o tempo que eu subitamente tomava nesses encontros em que me perdia bebendo a inspiração da natureza.
Chegar à área das cavernas foi bem "kiwi". Sinalização impecável, marketing zero, lojinhas nem pensar...rsrs.
Aprendi que waitomo quer dizer wai=água e tomo=buraco. Rios subterrâneos formaram, ao longo de 30 milhões de anos, um complexo de aproximadamente 300 cavernas (só 10 abertas à visitação) onde vivem milhares de colônias de glowworms - isso mesmo: vermes brilhantes. Eles formam fios de gosma nos quais vivem e depositam seus ovos. As larvas emitem luz, como os vagalumes. E como cada fêmea põe no mínimo 100 ovos, no interior das cavernas, nas regiões onde vivem, o teto parece um céu estrelado.
Muito mais bonito do que essa luminescência e de formações imensas de estalactites e estalagmites foi observar o piso. Desde a entrada, num sistema complexo em espiral, para descer a uma incrível profundidade, até os pontos mais remotos, a caverna oferece rampas para cadeirantes.
Eu, que estava buscando aprender como foi criada a cultura kiwi de Respeito, encontrei nesse local acidentado mais uma lição.
Autor do artigo
Tania Paris