Serenidade em Paraparaumu
Pacata e singela, Paraparaumu foi um lar para simpáticas descobertas.
Peter, meu amigo neozelandês, me indicou a casa de uma amiga dele para alugar. À primeira vista a casa pareceu estranha, sem sabermos direito por onde entrar. A garagem estava cheia de coisas de quem habitaria ali, o que nos fez estacionar o carro na rua deserta. Como em todas as habitações que alugamos, à entrada nos deparamos com o regulamento da casa, o qual traçava, entre tantas outras, recomendações expressas sobre o lixo - como acondicioná-lo e onde deixá-lo às terças-feiras. Não demos atenção ao aparente detalhe das terças-feiras.
A praia distava uns 300 metros da casa. Era preciso superar uma elevação, quase como um pequeno morro, para atingi-la. Com areias negras, deserta, oferecia um cenário bonito demais para ser vista por tão poucos.
Havia um "centrinho" que conferia ao lugar um ar interiorano e acolhedor, onde existia uma casa para idosos, à beira-mar. Uma mesa de picnic, daquelas que tanto tinham chamado minha atenção na primeira vez em que pisei em solo kiwi, era o local onde tomavam sol enquanto desenvolviam alguma atividade.
Viver ali por alguns dias foi sereno, reconfortante; uma sensação de estabilidade, de quem conhece o ritmo e que até pode marcar uma sessão de massagem para o dia seguinte.
As tardes eram os ápices. Desde uma das pontas da praia, com suas ondas crespas, e longas extensões de areia fofa aguardando nossas pegadas...
...até a outra ponta, com um barzinho maneiro onde o Beto me aguardava pacientemente enquanto eu perseguia e me esbaldava com luzes de crepúsculos.
De lá tivemos acesso à Kapiti Island, uma reserva de pássaros. O ritual de proteção ao meio ambiente foi marcante. Limpeza dos tênis antes de entrar no barco, ao chegar à ilha e ao voltar para o continente. É clara a preocupação em manter cada ecosistema com sua vida nativa e, nesse caso, a limpeza na volta demonstra o cuidado absoluto, sem segregações.
Para caminhar na ilha é necessário assistir a uma sessão de orientação. Além da história e descrição dos pássaros nativos, a narração de uma tragédia originada por coelhos que para lá foram levados clandestinamente e que respondem por armadilhas posicionadas em todas as trilhas do lugar, aprendemos sobre o lixo de forma simples e contundente. Tudo, rigorosamente tudo, o que cada pessoa leva à ilha lhe pertence e com ela deve deixar a ilha. Certamente, cada pessoa deve levar seus pertences, incluindo principalmente o lixo que gerar, mas nada mais. Havíamos sido orientados a levar lanche e líquidos, pois lá não existe infraestrutura de espécie alguma; é virgem e é assim que deve permanecer. Mas foi bem mobilizador descobrir que não haveria como descartar nenhum saquinho ou frasco. E ali começou nosso aprendizado sobre o posicionamento quanto a rejeitos.
Retornando para casa, vimos um caminhão de lixo que esvaziava latões padronizados que se encontravam na frente de cada casa. Era terça-feira e não havíamos colocado o nosso para fora. A ficha só caiu dois dias depois. Éramos honrosos proprietários de todo o lixo que geramos nos dias em que estivemos ali, e, por descuido e falta de preocupação, havíamos nos dado ao luxo de desprezar a única oportunidade semanal de "doarmos" nossos rejeitos à municipalidade. Aqueles fantásticos caminhões - e só quem mica com dois sacos grandes de lixo dentro do carro sabe quanto - só retornariam na próxima terça-feira, e éramos terminantemente proibidos de deixar a casa alugada com lixo dentro - afinal, deveríamos levar todos os nossos pertences...
Foi então que percebemos que não haviam latas de lixo em local público. Para que? Ninguém instala "porta-pertences" em praças, né? Reflexão: Não quer mais o saquinho que embalava seu sanduiche? Se vire, carregue-o como e para onde quiser, mas não vai encontrar lugar algum onde jogá-lo. Oras... mas porque você embala um sanduiche em plástico descartável ao invés de colocá-lo em algo reaproveitável?
Sacolas de supermercado - geniais! Na primeira compra de víveres, os desavisados têm escolha de qual sacola comprar, dentre modelos com resistência, aparência e preços diversos. A mais barata, de plástico reforçado, tem propaganda da casa e, como as outras compradas ali, tem a vantagem de ser substituída gratuitamente quando deixa de resistir a sucessivas compras. E falando em supermercado, que simpatia oferecerem frutas para as crianças se entreterem enquanto os adultos percorrem o recinto!
Mas a iniciativa que achei mais criativa é um copo para café, resistente e feito de material reciclável. Ele é oferecido sem custo na compra da bebida, mas existe um desconto caso a pessoa leve seu próprio copo, que pode ser esse mesmo ou qualquer um que tenha em casa. Supondo-se que utilize o referido copo até que se torne inaproveitável, é só comparecer com ele a um dos estabelecimentos conveniados e trocar por outro ou solicitar reembolso da quantia anteriormente paga.
Wellington, capital da Nova Zelândia, foi nossa próxima estada. Jantar típico na casa de Peter e Jane, passeio com eles ao museu nacional, subida num morro para a vista dos bairros da cidade, etc.. só faltou cruzar com Jacinda.
Autor do artigo
Tania Paris