Rotorua, de tudo um pouco
É como ver o planeta respirando - por todos os poros. Onde você menos espera tem um buraco por onde sai vapor. No quintal das casas, nas calçadas, dentro das escolas... a atividade geotérmica é tão intensa que atrai os cliques da câmara fotográfica no momento em que se chega lá.
Os denominados gêiseres são fontes que vertem vapor e que, periodicamente, explodem numa coluna de água fervente. Transmitem a força da natureza enquanto aliviam a pressão naquela área vulcânica. Estive a observá-los várias vezes, refletindo sobre a insignificância humana. Por isso é tão encantador aprender sobre a cultura dos maŌris de cuidado, respeito e preservação. Eles se colocam como guardiões e não como usuários. Eu lia todos os cartazes e publicações. Estava ávida por entender as origens do Respeito tão entranhado nos costumes neozelandeses.
Foi num desses cartazes que aprendi a extensão do triângulo de imigração desse povo, originário da Polinésia. E é maluco pensar que navegaram por quase 4.000 km em alto mar em canoas precárias para se estabelecerem em Aotearoa, que significa "terra da grande nuvem branca". Eles nunca haviam visto neve e a cordilheira da ilha sul tem picos nevados, mesmo no verão, o que fez com que os interpretassem como sendo nuvens.
Atualmente os maŌris representam aproximadamente 15% da população kiwi e têm, por lei, não apenas os mesmos direitos dos demais cidadãos como também assegurada a preservação - e intocadas - das suas muitas terras sagradas.
Uma experiência que ilustrou bem o cumprimento desse acordo foi visitar dois lagos gêmeos. Denominados "Blue lake" e "Green lake", situam-se a poucas centenas de metros um do outro. Ambos são lindíssimos, com águas límpidas que fazem jus a seus nomes (os materiais rochosos existentes em cada um deles conferem suas cores, tão marcantes). Enquanto o lago azul se transformou em área de laser, onde abundam patos e crianças (...rsrs - vide placa), o lago verde só pode ser visto de um observatório em cima de um pequeno morro, o que não me permitiu sequer fotografá-lo. Inexistem trilhas ou qualquer outro tipo de acesso, mantendo-o em estado virgem, respeitado pelos homens e conservado a critério da natureza.
Encantar-se com a natureza preservada foi uma ótima preparação para visitar uma aldeia maŌri. À chegada, a aula sobre o Haka!!! Muito mais eu aprenderia sobre ele no tempo que permaneci na Nova Zelândia. Haka é uma dança para demonstrar força e união. Presta-se aos rituais de luta, para intimidar o inimigo, como figurativamente ocorre nos jogos de rugby. O time neozelandes, All Blacks, é vencedor mundial desse esporte com larga margem sobre seus adversários; e é famoso também pelo Haka que executa antes de cada partida - só assistindo para entender o que é intimidação. A versão feminina, o Black Fern, também é excelente e seu Haka igualmente ameaçador. Mas existem as versões da dança para celebrações e homenagens. Essas, como em formaturas ou sepultamentos, são de arrepiar. Aprendi que demonstrar força e união durante um enterro traduz fortemente o quanto a pessoa representava para o grupo.
Na aldeia, um grupo nos recebeu com o Haka, como ritual de boas vindas. Depois o Beto teve uma aula com eles, mas me proibiu de divulgar as fotos e vídeos da experiência. Respeito, até porque ele ficou incrível... mente estranho...rsrs. Meu acolhedor marido não leva jeito para força bruta.
Tivemos o priviégio de jantar na aldeia. Eles possuem uma espécie de forno, que consiste num buraco no solo. Dentro dele se depositam carnes e legumes em cestos, que são cobrertos com pedras vulcânicas em alta temperatura e depois com areia. O cozimento leva horas e o sabor é indescritívelmente bom. Após o jantar, uma dança dos que nos serviram, com a doçura do canto na sua língua nativa.
Foi pouco. Muita riqueza de tradições, rituais completamente cheios de significados e orgulho por pertencerem. Tanto mais para aprender...