Muriwai, a protagonista do meu sonho
Haviam sido 19 anos sonhando com o espelho d'água que se forma a cada movimento de ondas chegando à praia, sem que eu soubesse o nome do lugar.
Pesquisei por todos os meios disponíveis, incluindo o Peter, meu amigo neozelandês que tantas dicas incríveis me deu. Tudo me levava a Piha, pela localização, embora eu não conseguisse encontrar lá a única indicação segura que tinha: a existência de uma colônia de pássaros migratórios. E foi só em Piha, onde passei meu aniversário sem acesso à praia, que consegui do Mike, meu prestativo guia, o nome da praia onde eu passara o crepúsculo do meu aniversário em 1999.
Então, me aproximar de Muriwai instalou ansiedade em mim. Que estranho! Já haviam se passado mais de 40 dias em solo kiwi, onde eu quase não experimentava sentimentos defensivos. Ao me perceber ansiosa senti o grande contraste com a serenidade que inundava meus dias. Fiz marola... levei o Beto fazer trilha, levei-o para conhecer Piha, que dista uma hora de Muriwai, instalamo-nos no apartamento que alugamos em cima de uma garagem... ai que medo de ir para a praia...
Medo desnecessário. Lá estavam as areias negras vulcânicas que acolhem cada onda do mar e tentam segurá-las a cada movimento... não se cansam, retém a água recusando-se a dar-lhe dreno total. A absorção da água na praia é lenta, aguardando a nova onda, refletindo o céu em esplendor.
Ao lado da praia, lá estava o morro de onde é possível observar e aprender sobre os gansos-patola. Essa colônia tem aproximadamente 1.200 casais. A fêmea bota um único ovo e o casal o choca em revezamento, enquanto o outro busca alimento. De agosto a março eles permanecem ali, aninhados e alimentando sua cria, até que os filhotes estejam fortes o suficiente para o voo de mais de 2 mil quilômetros até a Austrália. Sobre o Mar da Tasmânia, eles voam em forma de "V", para minimizar a resistência dos ventos e economizar energia, usando também de revezamento em qual fica na frente cansando-se mais. Após três anos, eles voltam para procriar na Nova Zelândia.
Ao cair da tarde, as pessoas começam a chegar. Famílias e casais de namorados conversam, passeiam, tomam vinho e/ou comem petiscos rodeados pela cena deslumbrante. Não sei se é porque lá eu esqueço de respirar... mas em Muriwai parece que o pôr do sol é mais lento, como a recompensar minha devoção.
Autor do artigo
Tania Paris