lago Taupo, imensidão de água sobre uma cratera
Na superfície, um imenso lago; na base, um vulcão cuja última erupção, há dois mil anos, escureceu o céu da China e da Europa. Difícil descrever o que é um lago com 616 km2. É mais de três vezes o tamanho do município onde moro e próximo ao tamanho de Cingapura. É... imenso; como um mar de águas azul celestes.
Muitas famílias de cisnes ignoram completamente a atividade que se passa a menos de 200 m de profundidade. Navegar sobre ele, entretanto, é bem menos calmo do que sugere. Levei um tombo, daqueles bem espalhafatosos, ao tentar me locomover dentro do barco. O som da minha cabeça de encontro ao fundo da embarcação me rendeu a atenção de todos, mas não creio que tenha servido para tornar mais prudente o comandante, que se exibia em manobras de aproximação de rochedos onde foram esculpidos desenhos rupestres.
Essa região, central da ilha norte, é repleta de atividades sísmicas. Para quem, como eu, tem muita curiosidade sobre vulcões, é oportunidade de aprender bastante, lendo, conversando e visitando museus educativos.
Antes de chegar lá, estivemos ao pé do Tongarino. Digo ao pé, porque por mais que tivesse me esforçado à exaustão subindo-o por horas, o pico nevado glorioso do vulcão continuou reinando terrivelmente distante.
Desde a estrada que leva ao Parque Nacional de Tongarino, os convites para trilhas eram absolutamente irresistíveis. Eu explicava ao Beto que em cada trilha havia sempre ao menos um pontezinha bucólica e ao final uma surpresa, uma recompensa pelo esforço; e foi essa certeza que sempre me motivou a superar minha forma física bastante enferrujada.
Ao caminhar, eu me detinha seguidamente na observação de plantas e para fotos de korus. Por isso, ele sumia de vez em quando, porque tem um ritmo muito mais acelerado. E foi numa dessas caminhadas rápidas que ele deu uma topada num tronco semi enterrado, o que venceu a proteção do tênis e lhe rendeu um machucado feio e significativo no dedão de um dos pés.
Depois de paliativos leigos, no dia seguinte concluímos que estávamos prontos para buscar ajuda médica. Não sabíamos o que esperar de uma cidadezinha como TaupŌ, de 25 mil habitantes. Encontramos o centro de saúde, com um pronto socorro absolutamente limpo e organizado.
Estranho eu ter impulso de escrever sobre a limpeza de um pronto socorro que, por definição, tem obrigação de ser limpo. Mas é porque os lugares públicos da Nova Zelândia exalam limpeza e cuidado, mesmo aqueles como esse, singelos e quase rústicos.
Fomos atendidos por uma médica paciente (olha só a nossa "emergência"), gentil e competente que orientou o curativo que veio a resolver o problema.
Perguntamos sobre pagamento. Nos explicaram que o governo neozelandês tem um seguro para cobrir despesas médicas decorrentes de acidentes com turistas. A médica disse "foi um acidente, não foi?" e, à nossa afirmativa, "então está tudo certo". Sim, sim, ao término de cada trilha tem sempre uma surpresa!
Casas de banho
A intensa atividade geotérmica dessa região propicia a existência de parques com gêiseres e rios de temperaturas variadas, e casas de banho, com lama ou águas quentes. A experiência foi compensadora. Existe todo um ritual e escolhemos o nível de privacidade desejado para o banho. Optamos por uma sala para casal. Apesar da água ser corrente, nossa banheira, ou piscina - uma área azulejada - estava confinada entre quatro paredes, dispondo de um banco e um armário. O tempo de permanência estabelecido foi maior do que o que conseguimos usufruir.
Relaxante, intrigante para os de primeira viagem, deixou saudades.
Huka Falls foi nosso último passeio antes de deixar TaipŌ. As águas do rio Waikato deslizam num leito de 100 m de largura antes de entrar num estreito de pedras vulcânicas, criando pressão e causando estrondo antes de despencarem numa cachoeira de 11 metros.
A cor da água ainda me impressiona. A tranquilidade das águas do lago próximo também. Os olhos embevecidos poderiam ficar ali por dias, numa terapia que aprendi com os orientais. Eles acreditam que nossos olhos "adoecem" por estarem sempre vendo cores de alvenaria e concreto; então é preciso deixá-los se fartar de cores da natureza para reestabelecer o equilíbrio. Que assim seja!
Autor do artigo
Tania Paris