como turistas em Coromandel

Para decidir qual seria o último lugar a visitar com o Beto, nas minhas andanças pela ilha sul, fiz "extensa pesquisa" entre os neozelandeses. Para todos que perguntavam sobre o meu roteiro eu oferecia minha pergunta de viagem favorita: "Se você pudesse conhecer só um lugar na Nova Zelândia, para onde você iria?". 100% das muitas respostas que obtive foram "Coromandel". Seguia-se eu perguntando porque e não conseguindo saber direito o que esperar. Mas confiei e reservei uma casa lá, anunciada como sendo no centro da cidade..

O anúncio estava correto. O google maps nos mandou para os fundos da casa, numa rua tranquila. Entramos por um quintal grande, agradável, com acessórios e demos direto na cozinha - ampla, super equipada, daquelas que convidam a cozinhar. Depois veio a observação da sala, também ampla e confortável, do banheiro imenso com banheira e depois do quarto com aquela cama bonita e fofinha... Uau! Parecia que seria difícil conhecer qualquer outra coisa ali, pois não tínhamos vontade de sair.

Como em todos os imóveis locados pelo airbnb, encontramos a pasta de informações úteis. Nessa altura da viagem eu já estava viciada em lavanderias. Devido ao fato de nossa bagagem ter sido projetada para durar uma semana, esse era o tempo máximo para encontrar uma lavandaria e... pimba!... ficar de novo com mala nova. E... bingo! lá estava a localização dela: praticamente em frente da casa. Foi então que abrimos a porta da sala para conferir.

Estávamos bem no cotovelo principal da rua principal. Sem cerca nem grade, abrir a porta significava ver pedestres, pois ali se concentrava a oferta de tudo o que havia a ofertar; desde o bar genial que ficava à nossa esquerda, a padaria, restaurante e  mercado à direita, até a lavanderia acessível ao atravessar a rua, essa que na realidade era uma estrada.

Engraçado recordar da localização de forma tão intensa. Era literalmente a um ou dois passos de tudo e a casa pareceu ainda mais com o que poderia ser nossa casa.

O Beto havia deixado roteiro e acomodações da viagem toda por minha conta. Então, para os dias em que estivemos juntos eu procurei reservar hospedagens grandes e bem localizadas, para mimá-lo pela liberdade estonteante que ele me concedeu. 

Sim, é estonteante ele ter ido bem além de aceitar que eu fizesse a viagem do jeito que eu bem entendesse. Ele estimulou minha aventura e removeu meus obstáculos emocionais; e não me cobrou do que quer que fosse. Ele parou de dizer "só tome cuidado" depois da décima vez em que eu caí na risada. Não funcionaram também o "dirija devagar", porque só se eu parasse; o "não se esqueça de passar repelente" (sou alérgica a picadas de insetos) porque lá não tem pernilongos. Mas funcionou maravilhosamente o "promete para mim que você fará o que tiver vontade". 

Lembro-me daquela casa como um contraste absurdo com relação às acomodações que utilizei enquanto estive sozinha. Mas lembro-me mais do sentimento de gratidão que me levou a reservá-la. E percebo agora, mais do que na ocasião, o quanto tudo isso fortaleceu nosso relacionamento.  

A praia mais próxima era do outro lado da enseada que se formava bem à frente de nossa casa, o que não significa que fosse longe. Tranquila, com ancoradouro e a paz das águas azuis.

Um pouco mais longe, ficava a praia que foi meu presente do lugar.

Foi difícil nos distanciarmos daquele ponto onde estávamos acomodados. Parecia que nada seria melhor; mas subimos o morro e exploramos outras praias da redondosa. 

Um pouco mais distante, o vilarejo Whangamata onde fica a foz de um rio que forma sua praia emendada com a do mar. Era fim de semana e as famílias aproveitavam o deque para mergulhos e brincadeiras. Nós caminhamos e absorvemos a serenidade.

Apesar de ter adorado Coromandel, hoje penso que a pergunta que eu fiz tantas vezes aos neozelandeses, embora tenha me rendido essa experiência inesquecível, é mesmo muito embaraçosa. Como apontar só um lugar? Se eu pudesse voltar agora para um só lugar, qual seria? Não sei, não sei mesmo.

Definitivamente preciso reformular minha pergunta, para deixar de embaraçar sem que eu perca indicações como essa.

Tania Paris