buscando o sol na costa leste da ilha sul

28/06/2020

Era dezembro, quase verão. O sol deveria estar presente, mas achá-lo era desafio diário.

Quando eu parava para uma refeição, não raro algum nativo puxava papo comigo, atraído pelo meu sotaque estranho e por estar sozinha numa região bem pouco povoada. Invariavelmente, ao final da conversa, me perguntavam "... para onde você vai hoje?" e, invariavelmente, eu respondia "Depende. Depende do sol". E nesse ponto, sempre me re-explicavam que nessa época do ano deveríamos ter sol todos os dias, mas estávamos num ano muito atípico. E eu pensava "será que vou ter que me doutorar em dias nublados?". De uma forma ou de outra, defini que quando eu não tivesse sol, iria simplesmente dirigir em frente; quando ele aparecesse, eu pararia para aproveitá-lo.

Por falta de paisagens ensolaradas, aprendi a apreciar os detalhes do caminho. O que primeiro me chamou a atenção foram os bancos para descansar, comer um lanche ou admirar a paisagem... contemplar... "com tempo olhar", como defini eu.

Depois vieram os cafés. São inúmeros ao longo das estradas. Neles eu me deliciava com um chai latte, algo para comer e muito para aprender sobre costumes e modo de vida. Neles tinha sempre alguém disposto a conversar e responder minhas perguntas. 

Num dos dias, eu senti cansaço e me dirigi ao holiday camping mais próximo. Enquanto aguardava para ser atendida, fui atraída por um quadro que indicava o horário exato do nascer e do pôr do sol daquele dia. Animei-me... quem sabe seria minha chance de ver um céu bonito. 

O gentil senhor foi logo me dispensando dizendo que lamentava imensamente, mas estavam sem água quente. "Mas pelo menos o senhor tem um nascer ou um pôr do sol para mim?" O banho poderia ficar para o dia seguinte. Ele riu, fez meu check-in e me indicou a praia ao fundo da propriedade, onde ainda dava tempo de ver leões marinhos. 

"Com tempo olhar" foi minha estada, sem banho, maravilhosa ali.

...como foi maravilhoso o restante da viagem simples, sem sol, sem lugares externos espetaculares... espetaculares foram só os que visitei internamente.

Autor do artigo
Tania Paris